Em Dia de Santo António...
...diferentes formas de o viver...
O MEU SANTO ANTÓNIO
Lisboa a 13 de junho do melhor ano das nossas vidas….
Santo António acorda e escuta uma voz cantarolando:
“todos nós temos Amália na voz, e temos na sua a voz a voz de todos nós”
Para seu grande susto, o Menino que carregava ao colo fugira-lhe da mão….
Correu as sete colinas, por entre as asas da gaivota que voa sobre o céu de Lisboa, na procura do Menino.
No cais das colunas, o santo casamenteiro sente um calafrio, olha o rio como se fora o leito da sua infância… Será que o Menino partiu numa falua do Tejo à deriva da onda da saudade…?
Santo Antonio sobe o traçado da baixa Pombalina, cidade a ponto luz bordada. Pelas ruas da Mouraria ainda cheira a rosmaninho da procissão da Senhora da Saúde….
“Há gargalhadas no ar (…) há alegria na viela”
Entre a Velha Tendinha e a casa da Mariquinhas iam cambaleando os castiços padrinhos da Marcha: Vasco Santana e Hermínia Silva.
No Chiado, Santo António encontra duas crianças, em dia de aniversário, inteligentes, mas muito solitárias. Especiais como o seu Menino ausente….
O rapazinho mora em frente ao Teatro de São Carlos. Porém, o coro não lhe canta os parabéns. Na alma soavam as badaladas do “sino da minha aldeia, dolente na tarde calma”…
Na Rua das Chagas, numa casa grande, num mundo de adultos, uma menina desenha numa tela “o quarto dos azulejos”.
Pela noite dentro, Santo António sobe ao Bairro Alto….
Já a manhã raia. O santo estende a mão e lá está o Menino com seu sorriso de ouro…sentado na cadeira do barbeiro mais original de sempre….
texto de Jorge Cosme